quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Nas Asas do Aviãozinho


Olá Regina!

Meu nome é Rafael Mussolini,sou estudante de Pedagogia e atuo como mediador de leitura em uma biblioteca comunitária chamada "Mundo do Saber". Talvez você se lembre deste nome, pois você é uma seguidora do blog do nosso pólo de leitura, o "Sou de Minas Uai", fato que nos deixou muito contentes e deixamos aqui o nosso agradecimento pelo apoio.

Tomei a liberdade de enviar esse e-mail afim de relatar uma experiência enquanto mediador utilizando o seu livro "Nas Asas do Aviãozinho". Na biblioteca recebo turmas de uma creche. Eles chegam juntamente com a educadora e possuímos um espaço que procuramos organizar de forma a oferecer conforto, ludicidade e sensação de pertencimento, sendo que nosso maior desafio e desejo é a sedução de novos leitores.

Iniciei minha mediação normalmente, situando as crianças quanto ao nome do livro e da autora para em seguida fazer a apresentação das imagens, provocando a interpretação própria de cada um. No decorrer da leitura percebi que uma das crianças já conhecia a sua história. Conforme eu ia conversando com a turma e passando as páginas eu era interrompido a todo momento por essa criança com frases do tipo:"agora o aviãozinho vai acertar a cabeça da professora", "ela vai mandar a menina pra biblioteca", "a menina vai ler um livro", entre outras. Eu fiquei completamente surpreso com a forma com que essa história fora internalizada por essa criança de apenas três anos. Conversando com a professora, ela me disse que nunca havia lido essa história para a turma e que nem ao menos a conhecia. Ainda estamos pesquisando, mas acreditamos que isso foi possível através do aluguel realizado por algum adulto da comunidade, sendo que este livro está tendo uma demanda considerável de empréstimos e que nossa biblioteca tem como ponto forte o público da comunidade.

Como mediador fiquei surpreso e muito feliz por presenciar este momento em que uma criança expressa de forma natural a forma como a história de um livro pode ser marcante para ela, as referências que "inconscientemente" foram realizadas, a importância da mediação realizada pelos próprios familiares no dia a dia do lar, o quanto uma imagem pode explorar de uma criança, que naturalmente possui olhos inquietos e curiosos.

Diante desse acontecimento a minha prática enquanto mediador também teve de ser repensada e através das interrupções do pequeno leitor, procurei fomentar as interpretações de todos, estimulando ainda mais os comentários perante as ilustrações. É incrível como uma criança pode ser detalhista. Ao mesmo tempo em que a história fluía as próprias crianças iam me mostrando detalhes que passavam despercebidos por meus olhos de adulto e sempre é muito mágico a reação dos pequenos no trecho da história em que a personagem "convence" os colegas de turma a jogarem seus aviõezinhos.Mostrando também que as crianças depois de seduzidas pelo livro se tornam mediadoras, e muito eficientes por sinal Alguns mostram o interesse de fazer o mesmo na sala, outros caem na gargalhada, enquanto alguns começam a comentar fatos presenciados por eles e que vieram à tona por conta da leitura.

Estamos apaixonados pelo livro "Nas asas do aviãozinho", tanto pelo que ele representa no que acreditamos como história infantil e ilustração de qualidade, como na própria resposta que recebemos das crianças e seu encantamento, atenção e participação perante um livro de imagens. O livro também traz de forma muito inteligente questionamentos quanto a imagem que algumas pessoas ainda possui de uma biblioteca, e provoca reflexões que mostram de forma interessante um tabu que nós, envolvidos no perfil de biblioteca comunitária queremos quebrar. A biblioteca não é mais local de castigo, a biblioteca não é mais local de silêncio absoluto e nem é mais aquela salinha pequena e escura para empilhar livros. A biblioteca é um lugar de descobrimento, de significação do mundo e de relações sociais.

Possuía um certo receio em mediar utilizando livros de imagens, por acreditar que talvez não conseguiria explorá-lo da forma que um livro de imagens merece. Esse livro foi minha primeira experiência e fiquei muito satisfeito com o resultado ao perceber que o sucesso de uma mediação de leitura através de imagens não depende exclusivamente do mediador e que as crianças acabam sendo os verdadeiros condutores da leitura.

O trabalho com conscientização, com promoção de leitura as vezes pode ser muito subjetivo e seus resultados muito sutis. As pessoas envolvidas precisam ter um olhar muito atento para aprender a "ler" seu usuário (no caso de uma biblioteca) e saber realizar de forma saudável o papel de ponte entre o livro e o leitor. Esse episódio que relatei serviu como uma injeção de ânimo e renovou minha crença na importância da leitura. Existe uma Frase de Rubem Alves que gosto muito e que define muito bem meu sentimento nesse momento: "[...] um único momento de beleza e amor justifica a vida inteira."


Um abraço!!!

Rafael Mussolini
--




2 comentários:

  1. Essa foi uma mediação de leitura muito especial em nossa biblioteca!!!

    ResponderExcluir
  2. Adorável castigo essa professora do livro aplicou. Fico triste quando vejo que a leitura é tratada, às vezes, como um castigo mesmo. Uma pena. Lindo livro!!

    ResponderExcluir