sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Livro de imagem

Livro de imagem

Completo em maio, com a publicação de mais três títulos, 23 livros de imagem, metade do número de livros que tenho publicados.

Há 32 anos, foi lançado o “Que planeta é esse? Em seguida, “Gato de papel” e “História de amor”.

Muitas coisas aconteceram durante esse percurso. No princípio, salvo alguns aventureiros ou empreendedores do futuro, era difícil um editor aceitar de imediato um projeto de livro de imagem. Era um produto relativamente novo e não se tinha segurança da aceitação pelo mercado consumidor. Durante anos, foi destinado apenas aos pequeninos na faixa dos não alfabetizados. E além do fato de ser novo, havia a real dificuldade dos professores em como trabalhar esse tipo de livro.

Em 1981, Um livro de Monique Felix, “ O ratinho que morava no livro”, me despertou o enorme desejo de criar narrativas de imagem. Comecei ilustrando outros autores, uma grande e importante tarefa. E sonhando a cada dia em poder também contar minhas histórias.

Tive o imenso prazer de visitar Eva Furnari, em 1987. Senti-me em sua casa, como quem estava dentro de um livro seu. As gavetas que, certamente, guardavam desenhos e histórias, os gouaches sobre a mesa, o gato branco e a sua delicadeza, jamais me esqueci.

Alguns anos depois, vejo com olhos de quem vê uma das coisas mais lindas feitas por aqui na terra, “Cântico dos Cânticos” de Ângela Lago.

Durante esses 32 anos, outros ilustradores surgiram com narrativas próprias. Cada um com seu jeito muito particular de criar. Como num desenho de figura humana, em que não se pode estabelecer regra por onde começar. Uns começam pela cabeça, outros pelo corpo etc. Já comecei histórias pelo fim, pelo meio e pelo começo. É fato de que quando se começa pelo fim, as dificuldades são menores. Tenho vivenciado essa mesma experiência com roteiros para cinema.

Mas em se tratando de uma narrativa visual, se começar por um texto, é porque ela não se estabelece sozinha. Não acredito ainda que um texto pode ser um ponto de partida para uma narrativa visual. Já foi proposto a mim e, provavelmente, a outros desenhistas, parcerias dessa natureza. Sempre achei que não era possível e nem sincera essa construção, pois como disse antes, se o texto veio primeiro é porque ele é soberano. Assim como uma narrativa de imagem concebida em imagem é soberana.

Outra coisa formidável que tenho vivenciado é a abertura imensa que uma história contada em imagens propicia. Cada dia me convenço mais de que nós, autores desse tipo de narrativa, temos que nos calar diante do nosso leitor, pois nada importa mais do que o que ele interpreta e sente, ou sente para interpretar. Nós somos apenas o primeiro impulso para que ele percorra o nosso livro com suas próprias pernas, olhos e alma. Não há o que dizer ou passar, passa por nós o que vem do outro e é isso o tesouro magnífico que um livro de imagem guarda em suas páginas.

Tenho uma grande satisfação em ser uma autora com incontáveis co-autores, que são meus queridos leitores.

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